Covid-19: os principais efeitos e dicas para a recuperação

Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o novo coronavírus (Sars-CoV-2) como uma pandemia mundial, foram realizados diversos estudos científicos que contribuíram para a compreensão da Covid-19 e seus efeitos no organismo.

Hoje, já entendemos que o coronavírus é bem mais do que uma “pneumonia um pouco mais severa”. Trata-se de uma enfermidade mais abrangente que é capaz de infectar, além do pulmão, órgãos como: coração, rins e sistema nervoso central. ⁽¹⁾ Sendo assim, neste texto falaremos sobre os principais danos metabólicos causados pela Covid-19 e como podemos auxiliar o nosso corpo para uma boa recuperação. 

Covid-19: uma doença sistêmica, além de respiratória

Em primeiro lugar, vamos entender que o coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. Até este momento, são conhecidos 5 gêneros, entre eles o SARS-CoV-2, o vírus causador da Covid-19. ⁽²⁾

Para se tornarem intracelular, os coronavírus utilizam um mesmo receptor nas células-alvo: a enzima conversora da angiotensina 2 (ECA2). A angiotensina 2 é uma substância que contrai os vasos e aumenta a pressão sanguínea, presente na membrana de vários tipos celulares, sendo amplamente difusa no organismo. A ECA2 conta com a ajuda de uma molécula conhecida por proteína S, na qual a ligação entre as duas substâncias possibilita a atividade intracelular da Covid-19 facilitando sua reprodução. ⁽³⁾

Cientistas afirmam que os pulmões são os alvos principais do Sars-CoV-2. Quando o vírus causador da Covid-19 atravessa a barreira imunológica e chega ao pulmão, a infecção segue se alastrando por outros órgãos. Artigos científicos destacam que as regiões do nosso corpo ricas em ECA2, enzima conversora da angiotensina 2, substância essa presente na membrana de vários tipos celulares, provavelmente, são as mais vulneráveis às consequências da Covid-19. ^(3,4)

Além de estar presente nos pulmões, o ECA2 pode ser encontrado no coração, intestino e rins. Desse modo, muitos consideram a Covid-19 como uma doença sistêmica e não apenas respiratória. ⁽⁴⁾ 

A tempestade inflamatória no organismo

Uma das particularidades da infecção pelo coronavírus é a tempestade inflamatória. Quando ocorre a invasão de uma célula por um patógeno e, consequentemente, sua multiplicação, o organismo transmite uma resposta-padrão do nosso sistema imune. As células infectadas emitem um alerta de que estão sob ataque e, então, o corpo começa a agir, liberando substâncias inflamatórias. As mensageiras, conhecidas por citocinas, são muito importantes nesse processo, uma vez que mobilizam as células de defesa para agirem prontamente. A partir disso, surgem sintomas como febre e mal-estar, clássicos de doenças infecciosas, como a Covid-19. ⁽⁵⁾

Mas, atenção: quando a resposta do sistema imune é persistente e não consegue controlar a infecção, pode começar a causar danos para o corpo. O alto nível de citocinas pode inflamar os pulmões e começar a prejudicar outros órgãos e estruturas. Essa tempestade inflamatória atinge, especialmente, a parede dos vasos sanguíneos. ⁽⁵⁾ 

Efeitos da Covid-19 nos pulmões

A infecção causada pelo vírus Sars-CoV-2 nas células pulmonares pode levar à formação de fibroses, doença crônica caracterizada pela formação de cicatrizes no tecido pulmonar, fazendo com que o indivíduo tenha dificuldades para respirar. Essas cicatrizes preenchem o espaço das lesões, mas não possuem a mesma elasticidade original. A fibrose pode ser causada pela “tempestade inflamatória” que já citamos, fazendo com o que o pulmão funcione com uma maior dificuldade, resultando na perda da eficiência nas trocas gasosas. Com a redução da capacidade de respirar, começam a aparecer a falta de ar e o cansaço. ^(1,4) 

Efeitos da Covid-19 no coração

Como vimos, o Sars-CoV-2 pode infectar as células que envolvem a parede interna dos vasos sanguíneos, provocando alterações no ritmo de coagulação. Esse fato pode gerar um quadro de hipercoagulabilidade, contribuindo para a formação de trombos, que estão relacionados a infartos e hemorragias no coração. Com a coagulação alterada, os vasos menores e mais estreitos são atingidos primeiro, justamente os do pulmão e aqueles que abastecem o coração. Além desse fato, o coronavírus pode migrar e invadir as células do músculo cardíaco, no chamado miocardite. ^(1,5) 

Efeitos da Covid-19 no cérebro

Alguns estudos sugerem que o Sars-CoV-2 também seria capaz de causar danos a diferentes células neuronais, como astrócitos e neurônios. A suspeita é a de que o vírus possa quebrar a barreira que protege o cérebro e infectar as células que residem ali. Portadores do vírus costumam apresentar sintomas neurológicos, como dor de cabeça, confusão mental e tontura. Há também os sinais de danos nos nervos periféricos, ligados a olfato e paladar. Em casos graves da Covid-19, já foram relatados problemas como a encefalite e acidente vascular cerebral (AVC). Entende-se que as alterações na coagulação sanguínea e a obstrução das paredes dos vasos podem atingir a circulação cerebral, aumentando o risco de acidentes vasculares. ^(1,5) 

A Covid-19 também pode afetar o pâncreas, fígado e rins

O Sars-CoV-2 também pode infectar as células do pâncreas e do fígado, que controlam os níveis de açúcar no sangue. Dessa forma, podem surgir doenças, como diabetes. Um outro ponto é que a inflamação e coagulação desenfreada também afeta os rins, tanto que grande parte dos pacientes internados no Brasil necessitam de hemodiálise. Existem indícios de que o vírus pode viajar até esse órgão e infectar suas células, já que ele também possui a enzima-chave de conexão do patógeno, a ECA2. ⁽⁵⁾

Trombose relacionada à Covid-19

Como já citamos, quando o indivíduo é infectado pelo vírus SARS-CoV-2, ocorre uma tempestade inflamatória no organismo, fazendo com que o processo de cicatrização saia fora do controle. Com o excesso de coagulação, os pequenos vasos sanguíneos são afetados, resultando no entupimento e bloqueando a passagem do sangue. Algumas artérias e veias maiores podem ser afetadas por essas obstruções, dando origem a problemas sérios, como a trombose venosa profunda. Esse evento ocorre, principalmente, quando já existe algum fator de risco prévio em quadros de pessoas que contraíram Covid-19, como a obesidade, tabagismo, diabetes e hipertensão. ⁽⁶⁾ 

Recuperação pós infecção da Covid-19

A recuperação de alguns pacientes pós-covid pode ser prolongada. Ainda não se sabe, ao certo, quais os motivos que levam a persistência de alguns sinais e sintomas, como:⁽⁷⁾

• Fadiga, falta de ar e tosse;
• Dor nas articulações, no peito, dores musculares ou de cabeça.
• Batimento cardíaco rápido ou acelerado;
• Perda de olfato ou paladar;
• Problemas de memória, concentração ou sono;
• Quedas de cabelo ou erupção cutânea.

No entanto, a boa notícia é que uma alimentação saudável em conjunto com a prática de exercícios físicos pode ajudar no processo de recuperação da Covid-19. Muitas vezes, são necessárias reposições nutricionais e atividades voltadas à fisioterapia respiratória e motora.  ⁽⁸⁾ 

Falando de nutrição

Para quem sofreu a forma grave da Covid-19, a recuperação da massa muscular torna-se prioridade. É indicada a ingestão de proteínas, sempre calculada de forma que atenda às necessidades individuais do paciente. Como a percepção de sabores dos alimentos pode ser alterada pelas mudanças do olfato e paladar, muitas vezes é necessária a reposição de vitaminas, minerais e suplementos. ⁽⁸⁾

Alguns alimentos fontes de proteínas: carnes, ovos, laticínios e leguminosas. ⁽⁸⁾

Para quem sofreu com quadros de disfunções circulatórias, influenciado desde a queda do cabelo até a formação de pequenos coágulos, alguns alimentos funcionais podem ser inseridos na alimentação, principalmente os que são ricos em ácidos graxos, como nozes, peixes de água fria, linhaça e chia. ⁽⁸⁾

Também são indicados alimentos que contenham ativos vasculotônicos na composição, como pimentas, especiarias, gengibre e canela, pois eles ajudam na recuperação do paladar e olfato. Os polifenóis não ficam de fora: consumir frutas vermelhas e chocolate amargo, por exemplo, também pode ajudar. ⁽⁸⁾ 

O momento dos exercícios físicos

A prescrição de exercícios físicos deve ser feita, de preferência, com o acompanhamento de um profissional, de modo individualizado, principalmente para definir o tipo, intensidade e volume, garantindo a segurança e a eficiência das práticas realizadas. Exercícios com peso beneficiam o sistema cardiorrespiratório, as funções metabólicas, corporais e cognitivas, além de reduzir os índices de ansiedade e depressão. Mas, lembre-se: é importante que a retomada dos exercícios físicos aconteça de modo mais lento e gradual, sempre ouvindo e respeitando as limitações do próprio corpo. Algumas técnicas de controle respiratório também são aplicadas, uma vez que elas visam normalizar os padrões de respiração e aumentar a eficiência dos músculos da região. ^(8,7)

É importante sempre lembrar que, em casos de deficiência, no momento de adquirir os nutrientes citados para a alimentação, o uso de suplementos é bem-vindo. Reforçamos, ainda, que a consulta aos médicos, nutricionistas e profissionais da área é imprescindível. Como vimos, a Covid-19 é uma doença que pode prejudicar todo o organismo e a sua recuperação deve ser feita de forma responsável e adequada. Muitos são os efeitos que acometem os nossos órgãos, então, mesmo que a infecção tenha ocorrido de forma leve, é importante sempre manter os bons hábitos nutricionais e a prática de exercícios físicos, auxiliando no fortalecimento de todo o corpo.

E lembre-se: até o momento, não foi comprovada a eficácia de medicamentos contra a Covid-19, nem a implantação de tratamento precoce. A vacinação é essencial na redução da circulação do vírus e no número de casos graves e internações. Fique em casa e se proteja! 

Fontes: 

1. ANDRADE, Rodrigo de Oliveira. Os efeitos da Covid-19. Pesquisa FAPESP, 2020. Disponível em: <https://revistapesquisa.fapesp.br/os-efeitos-da-covid-19/>. Acesso em 10 ago. 2021.
2. SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Saúde. Coronavírus – O que é? Disponível em: <https://www.saude.sc.gov.br/coronavirus/doenca.html>. Acesso em 10 ago. 2021.
3. PALMEIRA, Vanila Faber. Nova compreensão dos danos da infecção por SARS-CoV-2 fora do sistema respiratório. Instituto Brasileiro de Informação em Ciências e Tecnologia. Disponível em: <http://evidenciascovid19.ibict.br/index.php/2020/08/31/quais-os-principais-danos-corporais-do-coronavirus-2019-alem-dos-transtornos-respiratorios/>. Acesso em 10 ago. 2021.
4. MOTA, Camilla Veras. Coronavírus: A longa lista de possíveis sequelas da covid-19. BBC News Brasil, 2020. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-53654692>. Acesso em 10 ago. 2021.
5. PINHEIRO, Chloé. Coronavírus: muito além dos pulmões. Veja Saúde, 2020. Disponível em: <https://saude.abril.com.br/medicina/coronavirus-muito-alem-dos-pulmoes/>. Acesso em 10 ago. 2021.
6. PINHEIRO, Chloé; LUDUVIG, Laura; HENRIQUE, Guilherme. Como a Covid-19 causa trombose? Veja Saúde, 2020. Disponível em: <https://saude.abril.com.br/especiais/como-a-covid-19-causa-trombose/>. Acesso em 10 ago. 2021.
7. RENKE, Guilherme. Síndrome pós-Covid: exercícios, nutrição e respiração na recuperação. Eu Atleta, 2021. Disponível em: <https://ge.globo.com/eu-atleta/saude/post/2021/02/19/sindrome-pos-covid-exercicios-nutricao-e-respiracao-na-recuperacao.ghtml>. Acesso em 10 ago. 2021.
8. SILVA, Tayanne. Como exercícios e alimentação podem ajudar na recuperação pós-covid. Correio Braziliense, 2021. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/revista-do-correio/2021/04/4918525-como-exercicios-e-alimentacao-podem-ajudar-na-recuperacao-pos-covid.html>. Acesso em 10 ago. 2021.