O glúten, muitas vezes, é enxergado como algo negativo. As pessoas o excluem da alimentação por acreditarem que ele ajuda no ganho de peso. Na verdade, a história é um pouco diferente. O que sabemos é que sim, o glúten tem relação com algumas patologias, mas ele não é o maior vilão do mundo vegetal. (1)
Neste texto, vamos falar sobre quem realmente pode consumir essa proteína, os desafios relacionados a ela e, de quebra, ainda desmistificaremos a associação com o ganho de peso.
O que é glúten
O glúten é um conjunto de proteínas de reserva usadas por algumas plantas para nutrir suas sementes durante a germinação. Pode ser encontrado em alguns cereais, como o trigo, centeio, cevada e aveia. (2,3)
Por ser uma substância viscoelástica, o glúten é muito importante na fabricação de pães, macarrão, biscoitos e outros alimentos. (3)
Sendo assim, o glúten, na maior parte dos casos, pode ser consumido normalmente, sem oferecer riscos à saúde. Contudo, existem pessoas que desenvolveram intolerância ou alergia ao glúten, fazendo com que o consumo dessa proteína seja prejudicial à saúde desses pacientes, como veremos nos próximos tópicos.. (3)
Patologias relacionadas ao glúten
Nos Estados Unidos, cerca de 30% das pessoas seguem uma dieta que inibe o consumo de glúten. Considerando que somente uma minoria realmente tem um diagnóstico de patologias relacionadas à ingestão dessa proteína, a restrição do seu uso pode apresentar um comprometimento nutricional para quem não convive com os seguintes problemas: alergia ao trigo (AT), sensibilidade ao glúten não celíaca (SGNC) e doença celíaca (DC). (2)
Alergia ao trigo
É definida como uma reação adversa imunológica às proteínas do trigo, que pode ser classificada em quatro tipos: (4)
- Alergia alimentar clássica: que pode afetar a pele, trato gastrointestinal ou respiratório.
- Anafilaxia induzida por exercício: quando o indivíduo apresenta quadro de reação alérgica aguda, urticária ou asma ao praticar exercício pouco tempo depois da ingestão de trigo;
- Asma e rinite ocupacional: em contato com o alérgeno, ocasiona a sensibilização por via inalatória, apresentando asma e rinite. Esse grupo pode ingerir trigo sem demonstrar sintomas;
- Urticária de contato.
Além desses tipos de manifestações, também podem ocorrer esofagite (inflamação do esôfago) e gastrite eosinofílica, que são reações mais tardias, ou seja, não ocorrem logo após o consumo do alimento.
Sensibilidade ao glúten não celíaca (SGNC)
Essa denominação pode ser um pouco incomum, mas a SGNC também é conhecida por intolerância ao glúten. Trata-se de uma alergia a substâncias à base de trigo, cevada e centeio. (5)
Para concluir o diagnóstico, é necessário realizar um exame de sangue que verifique a existência de anticorpos que indiquem a presença da doença celíaca. Caso o resultado seja negativo, pode haver a possibilidade de que exista a intolerância ao glúten, então, o passo seguinte é a redução ou remoção de glúten na dieta. Assim, com monitoramento constante, será possível confirmar as suspeitas e validar o diagnóstico, uma vez que não existe um exame que comprove a condição. (5)
Frequentemente confundida com a doença celíaca ou com a alergia ao trigo, a intolerância ao glúten pode apresentar os seguintes sintomas:
- Diarreia e constipação;
- Dor abdominal;
- Inchaço;
- Náusea, dores de cabeça e fadiga.
Um olhar atento à doença celíaca (DC)
A doença celíaca é uma reação autoimune ao glúten. O indivíduo que carrega o diagnóstico não possui a enzina responsável por quebrar o glúten, fazendo com que ele não seja bem processado pelo organismo. Nesse momento, o sistema imune reage ao acúmulo de glúten e ataca a mucosa do intestino delgado, provocando lesões e prejudicando o funcionamento do órgão. (6)
O diagnóstico costuma a aparecer durante os 3 primeiros anos de vida, mas existem casos do surgimento somente na vida adulta, na presença de carências nutricionais graves. (6) A doença celíaca pode ser classificada em: (4)
- Típica: prevalecem os sintomas gastrointestinais (diarreia, dor e distensão abdominal, constipação, náuseas, vômito);
- Atípica: prevalecem os sintomas extraintestinais (anemia, osteoporose, confusão mental, atraso do crescimento e desenvolvimento puberal, dermatite herpetifome);
- Silenciosa: pacientes assintomáticos com sorologia positiva e inflamação na biópsia do intestino;
- Potencial: pessoas com sorologia positiva, apresentando sintomas ou não, sem inflamação na biópsia intestinal.
Embora os sintomas clássicos da doença sejam os gastrointestinais, também ocorrem manifestações que não estão relacionadas ao sistema digestivo. como inchaço nas pernas, irritabilidade, lesões na pele, menstruação irregular e problemas de crescimento em crianças. (6,7,8)
Por ser uma condição autoimune, a doença celíaca pode ser apenas controlada. Um fator de risco se encontra na predisposição genética. Desse modo, a prevenção de complicações pode se dar a partir da consulta do histórico familiar, auxiliando no diagnóstico precoce para adaptação da dieta e evitar lesões na região intestinal. (6,7,8)
Intolerância a glúten x doença celíaca
Enquanto a intolerância ao glúten é decorrente de sua má-digestão, na qual os restos podem se alojar e acumular na parede do intestino, gerando um mal-estar em todo o corpo, a doença celíaca é autoimune, desencadeada pelo consumo de cereais que contêm glúten por indivíduos geneticamente predispostos. (3)
Um outro fator que as distingue é que os sintomas de intolerância a glúten podem melhorar ou até desaparecer com a inexistência do glúten na dieta. Já a doença celíaca, por sua vez, é caracterizada pela inflamação crônica da mucosa do intestino delgado, não apresentando cura. (3)
Apesar de não ser uma doença muito grave, pessoas com intolerância a glúten devem evitar, na medida do possível, o consumo da proteína para prevalecer o próprio bem-estar. A doença celíaca demanda total exclusão do glúten na dieta. Mesmo em quantidades mínimas, ele pode ser prejudicial para o paciente e, quando a doença não é tratada, pode levar a complicações bem sérias, como câncer intestinal, problemas neurológicos e desnutrição. (3,7)
Dieta sem glúten emagrece?
Muitos não-celíacos restringem o glúten da dieta por considerarem uma proteína que não favorece o emagrecimento. Mas esse tipo de pensamento é errôneo. oferece um valor energético parecido com o dos carboidratos. O que também contribui para a sua fama de vilão é o fato de que a maioria dos alimentos em que o glúten está presente são produzidos a partir da farinha de trigo refinada, apresentando um alto valor calórico devido aos níveis de carboidratos simples. (3)
A orientação de manter ou retirar o glúten da sua dieta deve partir de um profissional após avaliar todo o seu histórico. Tudo é questão de tornar a alimentação saudável e balanceada, evitando o desequilíbrio de nutrientes. A superexposição de um alimento pode criar no organismo um pouco de intolerância a ele e isso não acontece somente com o glúten. Indivíduos que apresentam intolerância, alergias ou doença celíaca realmente devem evitar a ingestão dessa proteína. (1,9)
Fontes:
- ELIAS, Vivian Carrer. Glúten: ruim para quem? Veja, 2014. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/saude/gluten-ruim-para-quem/>. Acesso em 13 jul. 2021.
- RESENDE, Paula C. Guerra et al. Doenças relacionadas ao clúten. Rev. Med. Minas Gerais, v. 27, s. 3, p. 51-58, 2017. Disponível em: <https://www.medicina.ufmg.br/gastroped/wp-content/uploads/sites/58/2017/12/doencas-relacionadas-ao-gluten-20-12-2017.pdf>. Acesso em 13 jul. 2021.
- VALLEJO, Liliana. O glúten é mesmo um vilão? Em Foco, 3. 7, 2017. Disponível em: <http://www.unirio.br/comunicacaosocial/em-foco/pdf/EmFoco02.17.pdf>. Acesso em 13 jul. 2021.
- BRAGA, Giselle. Glúten: quais doenças ele pode causar? Quando excluir? Portal Ped, 2018. Disponível em: <https://www.portalped.com.br/especialidades-da-pediatria/gastroenterologia/gluten-quais-doencas-ele-pode-causar-quando-excluir/>. Acesso em 13 jul. 2021.
- VOCÊ é intolerante ao glúten? Conheça os verdadeiros sinais do problema. Veja, 2018. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/saude/voce-e-intolerante-a-lactose-conheca-os-verdadeiros-sinais-do-problema/>. Acesso em 13 jul. 2021.
- TENORIO, Goretti; PINHEIRO, Chloé. Doença celíaca: sintomas, alimentação, diagnóstico e tratamento. Veja Saúde, 2017. Disponível em: <https://saude.abril.com.br/medicina/doenca-celiaca-sintomas-alimentacao-diagnostico-e-tratamento/>. Acesso em 13 jul. 2021.
- PFIZER. 10 mitos e verdades sobre a doença celíaca. Disponível em: <https://www.pfizer.com.br/noticias/ultimas-noticias/10-mitos-e-verdades-sobre-doenca-celiaca>. Acesso em 13 jul. 2021.
- BRASIL. Ministério da Saúde. Doença celíaca. 2005. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/83celiaca.html>. Acesso em 13 jul. 2021.
- GLÚTEN: o que você precisa entender. Asbran – Associação Brasileira de Nutrição, 2014. Disponível em: <https://www.asbran.org.br/noticias/gluten-o-que-voce-precisa-entender>. Acesso em 13 jul. 2021.