A partir do momento em que a mulher recebe o diagnóstico do câncer de mama, a prioridade é o tratamento do câncer em si. E, claro, ter isso em mente é essencial para o sucesso dos procedimentos. (1)
Porém, se fechar apenas para essa realidade e achar que nada mais importa é preocupante. Uma mulher não deve deixar de lado os seus sonhos, como o de ter uma carreira, se casar ou ter filhos, para trás. Cada vez mais, o tratamento precisa ser visto de uma maneira mais humana. (1)
É comum pacientes com câncer de mama terem muitas dúvidas a respeito dos tratamentos e das suas consequências. Nas últimas décadas, grandes avanços foram obtidos no cuidado dos diversos tipos de câncer, levando a significativa melhora nas chances de sobrevida. Entretanto, as maiores complicações se dão com a perda da função dos ovários e a consequente infertilidade. (2,3)
Embora a fertilidade não ocupe uma alta posição na lista de prioridades durante a batalha do câncer de mama, essas questões começam a aparecer depois de atingido o critério de cura. A boa notícia é que existem medidas que, ao serem aplicadas, podem preservar a fertilidade. (1,3)
Para saber mais sobre o assunto, continue a leitura.
Entenda a relação: câncer x fertilidade
O câncer de mama costuma ser mais comum em mulheres acima dos 50 anos. No entanto, em 10% dos casos, a doença pode aparecer antes e a preocupação no modo como o tratamento pode impactar a fertilidade começa a ser discutida. Inclusive, cerca de metade das mulheres jovens com câncer de mama desejam engravidar após completar a terapia. (4,5)
A fertilidade pode ser afetada dependendo do tipo de tratamento a ser utilizado para o câncer de mama. (6)
Quando se inicia um tratamento oncológico, o objetivo principal é a cura que, muitas vezes, se baseia na cirurgia, quimioterapia e radioterapia. No entanto, esses procedimentos podem promover lesões nos ovários, resultando em um comprometimento total ou parcial da fertilidade. (1,7)
Geralmente, tratamentos que incluem quimioterapia podem induzir à ausência de menstruação e à infertilidade, além de oferecer o risco de causar menopausa precoce em 40% a 80% dos casos. Mas, tudo isso depende do tipo de tumor, do tipo de tratamento, do tipo de droga, da dose e do número de sessões. (1,2)
Outro fator que influencia também é a idade. As mulheres têm uma reserva de óvulos que vai diminuindo com o tempo. Se a reserva for mais baixa, o risco de o tratamento oncológico afetar a fertilidade é maior. (1)
Além disso, é importante considerar o estágio do tumor, pois quanto mais precoce for realizado o diagnóstico do câncer de mama, maiores serão as chances de cura e menos invasivos deverão ser os tratamentos. Caso o tumor tenha menos de um centímetro de tamanho, as chances de cura podem ultrapassar 90% e o tratamento será menos agressivo. Logo, as chances de preservar a saúde reprodutiva aumentam. (2,6)
4 alternativas para preservar a fertilidade
Cerca de 25% das pacientes em idade fértil após o tratamento de câncer de mama demonstraram interesse em conhecer suas reais chances de engravidar. Na verdade, a possibilidade de engravidar naturalmente está intimamente relacionada com o impacto da quimioterapia sobre o ovário. (3)
Para preservar a fertilidade, as mulheres têm basicamente 4 opções: (1)
- Congelamento dos óvulos;
- Congelamento dos embriões;
- Congelamento de tecido ovariano
- Supressão ovariana.
Destes, o procedimento mais conhecido é o congelamento dos óvulos, que deve ser realizado alguns dias antes da quimioterapia. Através do método, é feita a indução de ovulação para coletar óvulos maduros e, então, armazená-los em condições ideais. No caso do congelamento dos embriões, ocorre quase da mesma forma, a não ser pela diferença de coletar e já fertilizar com o espermatozóide no laboratório. (1)
A técnica de congelamento de tecido ovariano não demanda tempo. Nela, o cirurgião retira uma parte do ovário, faz toda a preparação necessária e o congela. Em seguida, a mulher pode passar por todo o tratamento contra o câncer. Então, caso ela de fato tenha ficado infértil e queira ter filhos, o tecido ovariano é reimplantado e volta a produzir óvulos.(1)
A supressão ovariana é uma alternativa que pode ser feita logo após o diagnóstico do câncer. Nesse procedimento, a mulher entra em uma menopausa temporária. Desse modo, o ovário entra em repouso e é menos atingido pelos quimioterápicos. (1)
Qual é o tempo ideal para se pensar em gravidez após o tratamento do câncer de mama?
Hipóteses indicam que a gestação não parece afetar negativamente o prognóstico de uma paciente tratada por câncer de mama. Porém, a determinação de um tempo mínimo para pensar em engravidar ainda é um assunto controverso. (3)
Contudo, o mais usual é que as mulheres com câncer de mama ainda em tratamento ou com doença sistêmica no momento do diagnóstico sejam aconselhadas a esperar pelo menos dois anos após o tratamento para pensar em engravidar. (3)
Um estudo populacional australiano identificou 2539 mulheres com menos de 45 anos de idade com câncer de mama. Destas, 123 engravidaram após o diagnóstico, com um total de 175 gestações. Metade das mulheres engravidaram dentro dos primeiros dois anos do diagnóstico. (3)
Concluindo, a relação da fertilidade com o câncer de mama pode ser influenciada por diversos fatores. Entretanto, é possível SIM engravidar após a cura da doença. Portanto, é muito importante que o médico converse com suas pacientes a respeito da vontade de ser mãe para que ele possa buscar o tratamento mais adequado para o caso, testando possibilidades que não prejudiquem os planos para o futuro. (2) Felizmente, não é necessário abandonar nenhum sonho.
Fontes:
- RUPRECHT, Theo. Como fica a fertilidade após o tratamento do câncer. Veja Saúde, 2017. Disponível em: <https://saude.abril.com.br/medicina/como-fica-a-fertilidade-apos-o-tratamento-do-cancer/>. Acesso em 09 set. 2022.
- FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE INSTITUIÇÕES FILANTRÓPICAS DE APOIO À SAÚDE DA MAMA. Infertilidade e câncer de mama: conhecendo alternativas. 2017. Disponível em: <https://femama.org.br/site/blog-da-femama/infertilidade-e-cancer-de-mama-conhecendo-alternativas/>. Acesso em 09 set. 2022.
- FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA. Preservação da Fertilidade em pacientes com câncer de mama. Diretrizes Clínicas na Saúde Suplementar. 2011. Disponível em: <https://amb.org.br/files/ans/preservacao_da_fertilidade_em_pacientes_com_cancer_de_mama.pdf>. Acesso em 09 set. 2022.
- HOSPITAL ALBERT EINSTEIN. Como o câncer de mama pode afetar a fertilidade. Vida Saúdável, 2021. Disponível em: <https://vidasaudavel.einstein.br/como-o-cancer-de-mama-pode-afetar-a-fertilidade/>. Acesso em 09 set. 2022.
- OLIVIERI, Juliana. Fertilidade em mulheres pós câncer de mama, o que há de evidências sobre criopreservação. PebMed, 2020. Disponível em: <https://pebmed.com.br/fertilidade-em-mulheres-pos-cancer-de-mama-o-que-ha-de-evidencias-sobre-criopreservacao/>. Acesso em 09 set. 2022.
- HOSPITAL ALBERT EINSTEIN. Câncer de mama pode afetar a fertilidade. 2021. Disponível em: <https://genomika.einstein.br/blog/cancer-de-mama-pode-afetar-a-fertilidade/>. Acesso em 09 set. 2022.
- LAMAITA, Rívia Mara. Preservação da fertilidade em mulheres com câncer. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, 2018. Disponível em: <https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/324-preservacao-da-fertilidade-em-mulheres-com-cancer>. Acesso em 09 set. 2022.