Saber encorajar a sua própria individualidade é essencial para viver relacionamentos saudáveis. A partir dela, se constrói identidade social, autonomia e consciência de si mesmo. Porém, não é tão simples quanto parece. Você já ouviu algum amigo dizer que “não consegue viver sem o outro”?
Parece ser inofensiva, mas esse tipo de afirmação é perigosa. Ainda mais quando você percebe que, pelas atitudes desse amigo, ele, inquestionavelmente, está preso a outra pessoa, com dificuldade até de tomar decisões próprias. O problema é que, quando alguém se aprisiona a um indivíduo, necessitando de constante aprovação e deixando sua essência de lado, há grandes chances de este apresentar um transtorno de personalidade dependente. (1)
Considerando a seriedade do assunto, neste texto trouxemos uma reflexão sobre dependência emocional e como ela pode prejudicar a sua vida. E, claro, apresentando caminhos para conseguir evitar esse risco.
Seres humanos são abastecidos por relações
A afetividade é concebida desde as primeiras experiências de vida. Todos nós precisamos de contato com outros indivíduos para assegurar a sobrevivência e nossas relações com pessoas têm grande relevância para a estrutura da personalidade de cada sujeito. Considerando que apresentamos características e habilidades distintas, o modo como nos relacionamos é resultado de inúmeros fatores de alta complexidade. (2)
Na família, experimentamos o primeiro relacionamento interpessoal. Os padrões familiares adquiridos na primeira infância irão influenciar na vida adulta e nos relacionamentos posteriores. É por isso que se torna tão importante o desenvolvimento em um ambiente familiar seguro, que possibilite a comunicação e a expressão de sentimentos. Dessa forma, a evolução da criança enquanto indivíduo na sociedade se torna mais confiante e autêntica. (2)
Depois, ao sermos inseridos na sociedade, começamos a descobrir o que é amizade, saindo do contexto familiar. Mais tarde, chegamos no tipo de relacionamento interpessoal que é foco de grandes obras literárias e cinematográficas: o amoroso. Nele, experimentamos a confiança, respeito, cumplicidade e, principalmente, o amor. (2)
No entanto, por mais benefícios que as relações amorosas possam trazer a vida de um sujeito, nem todos serão saudáveis. Vamos falar um pouquinho mais sobre isso? (2)
O amor saudável e o amor patológico
A palavra “amor” vem do latim “amare”. Cada pessoa possui a sua própria definição de amor, mas se formos determinar esse sentimento, podemos dizer que ele configura proteção, aproximação ou simplesmente uma afinidade forte por outra pessoa. É uma força poderosa que une e, na dose certa, nos traz felicidade. O amor saudável é para ser vivido de forma prazerosa, proporcionando bem-estar e satisfação. (2,3)
No entanto, muitos sentimentos podem ser confundidos com amor, como ciúmes, apego, carência e paixão. Sendo assim, saber reconhecer quando os limites da fronteira entre o que é normal e o que é patológico estão sendo atravessados pode ser um tanto complicado. (3)
O amor, na sua forma nociva, é caracterizado pelo comportamento irracional e sem controle, com o desejo de cuidar do parceiro de forma repetitiva e manipuladora. Isso acaba se tornando a maior prioridade de vida da pessoa dependente em detrimento de outros interesses antes valorizados, causando transtornos a si próprio e a quem o cerca. (3)
Os relacionamentos amorosos são imprevisíveis e intensos. Às vezes, assumidamente dolorosos, confusos e difíceis de domesticar. (4)
Com essa montanha russa de sentimentos, esse tipo de relação acaba sendo a mais comum e discutida quando o assunto é dependência emocional. Porém, vale ressaltar que o transtorno também está presente em relações parentais e de amizade. (1)
O que é dependência emocional
Alguém que possui dependência emocional possui um transtorno aditivo, no qual o indivíduo precisa da pessoa amada para manter o seu equilíbrio emocional. (5) É menos comum do que a dependência química, porém, assim como ela, ninguém escolhe ser dependente de pessoas. (3)
Uma relação de dependência pode ser definida por quatro elementos: motivacional, afetivo, comportamental e cognitivo. (6) Saiba mais sobre cada um deles:
- Motivacional: é a necessidade de suporte, orientação e aprovaçã (6)
- Afetivo: está relacionado à ansiedade vivida diante de situações onde o indivíduo precisa agir independentemente. (6)
- Comportamental: tendência a buscar ajuda de outros e de submissão em interações interpessoais. (6)
- Cognitivo: remete à percepção do sujeito como impotente e ineficaz. (6)
Portanto, as Dependências de Relacionamentos são classificadas em dois tipos: Genuínas e Mediadas. A Dependência Emocional se enquadra na categoria Genuínas, caracterizada pela necessidade de estar ligado emocionalmente a alguém e ao senso de cuidado com o outro, enquanto as Mediadas são relacionadas às co-dependências e bidependências em pessoas adictas, ou seja, viciadas em drogas, álcool ou jogos de azar. (1,5)
O que pode causar dependência emocional?
Um comportamento dependente pode ser provocado pelo desenvolvimento e ativação de crenças dependentes, onde uma pessoa teme o abandono de forma antecipada e adota comportamentos para evitar que o rompimento aconteça. Nessas condições, o indivíduo se vê incompetente e vulnerável, precisando muito da ajuda e presença do outro. (3)
As causas da dependência emocional também podem estar relacionadas à influência do desenvolvimento afetivo durante a infância. Por isso, reafirmamos a importância de garantir um ambiente seguro e afetuoso em casa, para que as crianças possam crescer emocionalmente saudáveis e preservar boas relações. (5)
Ainda, existem dois fatores que também influenciam no desenvolvimento da dependência emocional. O primeiro são os componentes neurobiológicos, ou seja, quando a a dependência emocional parte de uma fixação na superlativação neuronal, muito comum no começo dos relacionamentos, ou seja, o indivíduo precisa dessa atividade neuronal maior para se sentir confortável no relacionamento. O segundo é o fator cultural, quando a mídia retrata o amor como algo idealizado, normalizando comportamentos de obsessão e a dependência exagerada de quem é amado. (5)
Como a dependência emocional pode afetar a rotina?
Estudos apontam que dependentes emocionais têm grandes chances de realizarem ou sofrerem violência doméstica e ainda se manterem no relacionamento. (5) Esse transtorno ainda pode incitar:
- Comportamentos autodestrutivos; (5)
- Sensação de estar preso em um relacionamento, mas não conseguir deixá-lo; (2)
- Maiores riscos de desenvolver psicopatologias, como transtornos alimentares, ansiedade e somatização; (5)
- Convicção de dependência e paranoia; (5)
- Comportamento de submissão ao outro; (5)
- Ausência de decisões nos relacionamentos; (5)
- Autonegligência; (2)
- Sentimento de insatisfação, vazio emocional, medo da solidão, tédio, negatividade;
- Intolerância à frustração; (5)
- (5)
Caminhos para se livrar da dependência emocional
1 – Fazer terapia
Não é preciso ser diagnosticado com um transtorno emocional para começar a fazer terapia. Quando se trata de saúde mental, é preciso cuidar todos os dias.
2 – Autoconhecimento
Quanto mais você reconhece suas vontades, o que te faz feliz e o que não faz, e como reage a diversas situações no cotidiano, mais segura e autêntica será a sua jornada. Ter consciência dos seus comportamentos permite exercer o autocontrole. E isso é fundamental para alcançar a liberdade. (3)
3 – Cultivar boas amizades
Uma relação de amizade verdadeira pode até prevenir que você entre em uma furada amorosa. Os amigos que nos conhecem profundamente sabem identificar facilmente quando as coisas não vão bem, sem contar os bons conselhos.
4 – Valorizar a autoestima
Pessoas com boa autoestima são livres do outro, promovendo o que é bom para si mesmas, simplesmente por que se amam! O aumento da autoestima também traz sentimentos positivos de satisfação, bem-estar e alegria. (3)
Talvez, agora você esteja se perguntando: será que eu sofro de dependência emocional? Quem pode diagnosticar isso é somente um profissional de saúde qualificado. Se você conhece alguém que se identificaria com essa publicação, saiba que não é fácil um dependente aceitar sua disfunção emocional para pedir ajuda. Por isso, é necessário ter paciência e cuidado com a maneira de se comunicar.
Nós acreditamos que as pessoas merecem ser livres e felizes, exatamente por serem quem são. Viver sem amarras e construir a sua própria história com autenticidade, saúde e amor. Compartilhar coisas boas com quem transmite de volta. Pode parecer simples, mas nada disso seria possível sem o cuidado fundamental com a saúde mental. Quem ama se cuida!
FONTES:
- SANTOS, Thalis Cristina dos. Dependência emocional nos relacionamentos. 2020. 49 f. Monografia (Graduação em Psicologia) – Faculdade de Educação e Meio Ambiente, Ariquemes, 2020. Disponível em: <https://repositorio.faema.edu.br/bitstream/123456789/2748/1/TCC%20-%20Thalita%20Cristina%20dos%20Santos_assinado_assinado_assinado_assinado.pdf>. Acesso em 10 jan. 2020.
- MACHADO, Isadora; ROMANHA, Rosane. Dependência emocional das relações interpessoais em universitários. 30 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) – Universidade do Sul de Santa Catarina. Disponível em: <https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/10425/4/DEPENDÊNCIA%20EMOCIONAL%20-%20Artigoo%20Isadora.pdf>. Acesso em 10 jan. 2020.
- MOTA, Giselle dos Anjos. Dependência afetiva: quando amara é uma patologia – levantamento, intervenção e prevenção. In: CONGRESSO NACIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 18, 2018, São Paulo. Anais eletrônicos… São Paulo, 2018 https://conic-semesp.org.br/anais/files/2018/trabalho-1000002547.pdf>. Acesso em 10 jan. 2020.
- RODRIGUES, Soraia; CHALHUB, Anderson. Amor com dependência: um olhar sobre a teoria do apego. O Portal dos Psicólogos, p. 1-15, 2010. Disponível em: <https://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0155.pdf>. Acesso em 10 jan. 2020.
- SANTOS, Cárin Ávila et al. Dependência emocional: uma revisão literária. Disponível em: <https://eventos.ajes.edu.br/iniciacao-cientifica-guaranta/uploads/arquivos/6243b46693c4e_Artigo-Carin-Estele-Romano.pdf>. Acesso em 10 jan. 2020.
- BUTION, Denise Catricala; WECHSLER, Amanda Muglia. Dependência emocional: uma revisão sistemática da literatura. Est. Inter. Psicol., v. 7, n. 1, Londrina, 2016. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2236-64072016000100006>. Acesso em 10 jan. 2020.