“O amor é a força mais abstrata, e também a mais potente que há no mundo”. – Mahatma Gandhi
É com essa reflexão que iniciamos o texto de hoje.
Como pode algo tão intangível ser tão poderoso? Esse sentimento que tanto ouvimos falar e que, cada vez mais, sentimos a sua escassez nas relações do mundo atual, pode ser a chave para transformar e ressignificar toda a nossa razão de existir e a maneira como vivemos em sociedade.
Com o avanço da tecnologia, vivemos o que os sociólogos chamam de amor líquido, em que as relações são frágeis e facilmente descartáveis. É como se, atualmente, fosse muito fácil escolher novos amigos e novos parceiros. (1)
Segundo Zygmunt Bauman: “Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar.” (2) Tudo muda tão rapidamente que é como se nada mais fosse sólido. Desse conceito, podemos refletir sobre diversas esferas da nossa vida. Estamos com a sensação de que existe uma ameaça sobre nossas cabeças o tempo todo e isso pode nos impedir de mergulhar mais fundo nas nossas relações com o mundo, com as pessoas e com nós mesmos.
Na era da conexão, ficou fácil se desconectar… do outro, de nós.
Ao encarar com mais facilidade o fato de encerrar relações, por exemplo, cria-se uma dificuldade em estabelecer relacionamentos baseados na confiança como aqueles que ouvimos há séculos em cerimônias de casamento: “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza…”
Está mais fácil abandonar o barco em movimento, acreditando que sempre haverá um bote salva-vidas nos esperando. Mas nos enganamos muitas vezes, e, no final, afoga quem ficou no barco e aquele que esperou pelo bote. Ficamos à deriva esperando que o universo resolva tudo sozinho.
Ainda segundo Bauman, “na sua forma líquida, o amor tenta substituir a qualidade por quantidade”. Assim, ficamos a mercê da superficialidade, da falta de compromisso e do vazio. É claro que queremos ser livres para viver, para explorar o mundo e para lutarmos pelos nossos ideais. Mas qual o sentido de fazer isso sozinho? E quando usamos a palavra sozinho, não nos referimos a um parceiro amoroso, mas sim a todas as outras relações que estruturam a sociedade: os amigos, os familiares e aqueles que compartilham de visões e sonhos semelhantes aos nossos.
A vida tem mais sentido quando temos conosco companheiros nas nossas batalhas. Aqueles que estarão ali, custe o que custar. Aqueles que, mesmo a quilômetros de distância, não soltam as nossas mãos.
Quando nos relacionamos e convivemos com outras pessoas plenamente, nós melhoramos como pessoas, pois evoluímos e nos desenvolvemos. Todo mundo tem o que compartilhar e, fazer isso com amor, é a maneira de curar feridas causadas pela superficialidade e pelo individualismo. De mãos dadas, curamos nós mesmos e curamos o mundo.
Amor não é produto de prateleira. Amor é semente e depende do nosso cultivo para ser semeado. Amar não deve ser nó e, sim, laço. Não deve nos aprisionar em relações abusivas e nos fazer ficar pelo sentimento de medo e obrigação. Amar é ser livre por escolha e deve simbolizar a vontade de ficar e saber que “ali” florescemos e fazemos florir. Devemos ter a certeza de que podemos ir, mas que há razões para criar raízes fortes onde “estamos”, não geograficamente, mas com o nosso coração e com o nosso ser.
Desejamos que, todos os dias, você encontre maneiras de se amar para poder amar o outro e amar todos os seres que existem no mundo. Só amando, vivemos com plenitude, enxergamos o outro como ele é e aceitamos a fragilidade de não sermos perfeitos e, mesmo assim, apertamos os laços e seguimos juntos rumo ao mundo e à realidade que desejamos viver.
Como você vai plantar o amor hoje?
Fontes:
- SANTOS, Fabrício. Relações sociais no sécula XXI. Brasil Escola. Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/historiag/relacoes-sociais-no-seculo-xxi.htm>. Acesso em 07 mar. 2021.
- PRADO, Adriana. Sociólogo polonês cita tese para justificar atual paranoia contra a violência e a instabilidade dos relacionamentos amorosos. IstoÉ. Disponível em <https://istoe.com.br/102755_VIVEMOS+TEMPOS+LIQUIDOS+NADA+E+PARA+DURAR+/>. Acesso em 07 mar. 2021.