Todo mundo conhece alguém que só come um número limitado de alimentos e evita qualquer coisa nova ou diferente.
Esse comportamento, chamado de seletividade alimentar, vai além de uma simples preferência e pode impactar a saúde e o bem-estar da pessoa. (1)
Mas o que leva alguém a ser tão seletivo com o que come? Quais são as consequências desse hábito e como podemos ajudar quem passa por isso? Este texto vai responder a essas perguntas.
O que é seletividade alimentar?
A seletividade alimentar é um comportamento caracterizado por pouco apetite, recusa de determinados alimentos e desinteresse pela comida em geral. Essa combinação pode limitar a variedade de alimentos consumidos e causar resistência a experimentar novos sabores. (2)
Geralmente, começa na infância e, dependendo de como e quando é identificada, das suas particularidades e dos efeitos percebidos tanto pela pessoa afetada quanto por aqueles ao seu redor, pode continuar na vida adulta. (1)
A seletividade alimentar infantil é comumente observada entre os 4 e 24 meses, afetando aproximadamente 19 a 50% das crianças nessa faixa etária. (3)
Na seletividade alimentar, geralmente há uma preferência por alimentos de cores mais claras e sabores suaves, com texturas específicas como pastosa ou crocante, recusando qualquer alimento que não se enquadre nessas características. (3)
Entre os alimentos normalmente mais aceitos por esse grupo de pessoas estão pão, leite e batata. Além disso, as crianças não toleram nem mesmo o cheiro dos alimentos que não estão dentro de sua lista restrita. (3)
Causas da seletividade alimentar
Os hábitos alimentares são moldados por uma combinação complexa de fatores genéticos e ambientais. Nossa preferência por certos alimentos pode ser herdada dos pais, mas também é influenciada pelas experiências ao longo da vida. (3)
Por outro lado, a seletividade alimentar também pode ocorrer devido a distúrbios no processamento sensorial da pessoa. Isso afeta como ela responde ao sabor, textura, consistência, cor e cheiro dos alimentos, resultando na limitação dos tipos de alimentos que ela está disposta a consumir. (1)
Sendo assim, entre as causas da seletividade alimentar podemos citar:
- Introdução tardia de alimentos mastigáveis durante a alimentação; (4)
- Experiências negativas com a alimentação, como vômitos, engasgos e refluxos; (4)
- Influência dos pais, especialmente através da pressão para comer; (4)
- Distúrbios no processamento sensorial do indiví (1)
Outros fatores que podem contribuir para um quadro mais severo de seletividade alimentar incluem a presença de doenças crônicas, como Diabetes Mellitus tipo 1, efeitos colaterais de certos medicamentos, além de alergias e intolerâncias alimentares. (4)
Consequências da seletividade alimentar
A escolha restrita de alimentos durante as refeições pode levar a falta de nutrientes essenciais e prejudicar o corpo, já que o consumo adequado de macro e micronutrientes é fundamental para manter a energia e garantir o bom funcionamento do organismo. (2)
Se a seletividade alimentar ocorrer em idades precoces, pode levar à:
- Anemia; (1)
- Deficiências de vitaminas (hipovitaminoses); (1)
- Baixa energia; (1)
- Baixo peso; (1)
- Baixa imunidade; (1)
- Vulnerabilidade a infecções; (1)
- Problemas no desenvolvimento motor, cognitivo e de crescimento; (1)
- Doenças gastrointestinais; (1)
- Prejuízo no desenvolvimento da musculatura oral (língua, bochechas); (1)
- Dificuldades na deglutição; (1)
- Dificuldades na fala. (1)
Além dessas consequências, a seletividade alimentar pode prejudicar as relações sociais de crianças e jovens ao excluí-los de festas e refeições em grupo, limitando suas experiências culinárias com diferentes culturas. (1)
Isso pode causar estresse adicional e reforçar problemas de autoestima, tornando mais difícil para a família e cuidadores lidarem com essa situação. (1)
Outro ponto é que, se a seletividade alimentar resulta em uma dieta predominante em alimentos processados e ultraprocessados, há um aumento do risco de ganho de peso excessivo, o que pode levar a problemas de saúde como diabetes, pressão alta e níveis elevados de colesterol. (1)
Seletividade alimentar em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA)
Em 2020, uma revisão de estudos revelou que a seletividade alimentar é a desordem mais comum entre crianças autistas, afetando de 9,8% a 83% delas. (5)
Introduzir novos alimentos para crianças autistas com seletividade alimentar é um desafio a mais para os cuidadores, muitas vezes resultando em reações fortes, como choro, arremesso de objetos, agressão, cuspir ou empurrar a comida. (5)
Por isso, a participação da família, especialmente dos pais, é crucial para melhorar a dieta dessas crianças. (5)
É importante considerar como os pais aceitam e reagem ao diagnóstico de autismo do filho durante o atendimento médico, para fornecer informações e orientações adequadas, otimizando o tratamento e o desenvolvimento da criança. (5)
Suplementação pode ajudar?
A suplementação pode ser considerada em situações de seletividade alimentar. No entanto, é recomendada quando há incertezas sobre a qualidade e variedade da dieta, o que pode prejudicar não apenas a nutrição, mas também o crescimento e desenvolvimento das crianças. (4)
Apesar de ser uma medida temporária, os suplementos podem ajudar na transição para mudanças comportamentais e alimentares. É essencial lembrar que suplementos não devem substituir alimentos saudáveis na dieta regular. (4)
Como lidar com a seletividade alimentar?
Tratar a seletividade alimentar e fazer a criança experimentar novos alimentos, aumentando o seu repertório alimentar, não é uma tarefa fácil. Sabemos que é necessária a parceria entre pais e profissionais da saúde para que essa recusa alimentar possa ser diminuída com sucesso. (6) Mas existem algumas dicas que podem ajudar:
- Estabelecer uma rotina alimentar , com horários regulares para as refeições. O ideal é espaçar as refeições com intervalos de cerca de 3 horas. (6)
- Manter também uma rotina de sono. As horas e a qualidade do sono devem ser adequadas para a idade da crianç (6)
- Sempre que possível, realizar as refeições em família, nem que seja uma vez ao dia.(6)
- Os responsáveis devem sempre ser o exemplo, montando um prato variado com legumes e verduras, demonstrando prazer ao ingerir tais alimentos. (6)
- A refeição deve ser oferecida de acordo com o apetite e a necessidade da criança. Um prato muito cheio pode “assustar” a criança, fazendo que ela recuse o alimento imediatamente. É preferível servi-la diversas vezes se for preciso. (6)
- É importante organizar o tempo de duração das refeições. Refeições longas podem fazer com que as crianças tenham comportamentos inadequados, como jogar a comida no chã (6)
- Evitar distrações. Nada de televisão, brinquedo, celular ou tablet durante as refeições. A atenção da criança deve ser somente na alimentaçã (6)
- Atitude agradável é essencial. Punir ou recompensar a criança por causa da alimentação não são atitudes adequadas. É preciso manter a calma e não demonstrar irritação ou elogiar a criança caso ela coma bem. A alimentação precisa ser encarada como uma necessidade pela criança e pelos responsáveis. (6)
- Acreditar quando a criança diz estar satisfeita. Os pais ou responsáveis devem estabelecer um ambiente adequado para a refeição, o horário que ela será realizada e o alimento que será consumido. Porém, a quantidade pode sim ser entendida pela criança. Lembre-se: a qualidade é mais importante do que a quantidade. (6)
Promovendo uma relação positiva com a comida
A seletividade alimentar é um desafio que vai além das preferências pessoais. Este texto abordou as várias razões por trás desse comportamento, desde influências genéticas até questões sensoriais, destacando a importância de abordagens compreensivas e estratégias adequadas para ajudar as pessoas a lidarem com isso.
É fundamental que familiares, cuidadores e profissionais de saúde estejam bem informados e preparados para criar um ambiente onde novos alimentos possam ser introduzidos gradualmente, respeitando as preferências individuais e promovendo uma relação positiva com a comida desde cedo.
Com essas práticas, podemos não apenas melhorar a qualidade de vida das pessoas afetadas pela seletividade alimentar, mas também incentivar uma alimentação mais variada e saudável.
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Além disso, fique atento ao nosso blog! Aqui você encontrará muitas outras dicas e orientações para ajudar a manter um estilo de vida saudável e equilibrado. Quem ama se cuida!
FONTES:
- PARAÍSO, Solange Carvalho. Seletividade alimentar em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Tribunal de Justiça de Pernambuco, 2024. Disponível em: https://portal.tjpe.jus.br/-/seletividade-alimentar-em-pessoas-com-transtorno-do-espectro-autista-tea-. Acesso em 19 jun. 2024.
- ROCHA, Gilma Sannyelle Silva et. al. Análise da seletividade alimentar de crianças com Transtorno do Espectro Autista. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 24, p. 1-8, 2019.
- SERRA, Yasmin C. Costa; NUNES, Gilberth Silva. Os desafios familiares e nutricionais da seletividade alimentar em crianças. Brazilian Journal of Health Review, v. 5, n. 6, p. 24188-24197, Curitiba, 2022.
- SANTANA, Poliana da Silva; ALVES, Thaisy Cristina H. Santos. Consequências da seletividade alimentar para o estado nutricional na infância: uma revisão narrativa. Research, Society and Development, v. 11, n. q, 2022.
- LEMES, Monike Alves et. al. Comportamento alimentar em crianças com transtorno do espectro autista. J. Bras. Psiquiatr., v. 72, n 3, 2023. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jbpsiq/a/t4CjvXxkH4VvL9qGSZG8MDr. Acesso em 19 jun. 2024.
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Dificuldades alimentares. Disponível em: https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/nutricao/dificuldades-alimentares/. Acesso em 21 jun. 2024.