Futebol, ginástica e tênis são exemplos de práticas desportivas que aguçam a percepção competitiva e o comprometimento em aperfeiçoar a capacidade física para alcançar bons resultados. A diversão também faz parte, mas os treinos intensos ou até mesmo os alongamentos bruscos podem fazer com que as dores musculares e até mesmo a lesão muscular sejam eventos comuns em quem pratica exercício físico. (1)
Por essa razão, cada vez mais se investiga estratégias terapêuticas para melhorar a capacidade de recuperação do tecido muscular esquelético após lesão. É nesse momento que os olhares se voltam para o ômega 6 e 9, na intenção de compreender quais as vantagens que esses ácidos graxos podem proporcionar para a recuperação do tecido muscular.
A estrutura do músculo esquelético
Os seres humanos possuem três tipos de tecido muscular: liso, esquelético e cardíaco. O músculo esquelético representa de 35 a 65% do nosso peso e pode estar diretamente ligado aos ossos, cartilagens e pele. O nosso organismo possui mais de 600 músculos, que variam consideravelmente em tamanho, forma e função. (2)
O tecido muscular esquelético é formado por células alongadas altamente organizadas, responsáveis pela contração muscular. Essas células permitem, por exemplo, a locomoção, além de apresentar a capacidade plástica de se adaptar a condições internas e ambientais. (3)
A responsável pela organização estrutural do músculo esquelético é a fibra muscular, uma célula altamente especializada, longa, cilíndrica e multinucleada. Ela é composta principalmente por miofibrilas. (2)
Para se ter uma ideia, cerca de 75 a 92% do volume do tecido muscular é constituído por fibras musculares. O restante, é preenchido pela matriz extracelular, tecido conjuntivo, fibras nervosas e vasos sanguíneos. (2)
A musculatura pode sofrer lesões por trauma direto, como em atividades físicas intensas ou lacerações decorrentes de acidentes, ou por causas indiretas, como disfunções neurológicas ou defeitos genéticos congênitos. Se a lesão não for reparada corretamente, pode levar à perda de massa muscular e deficiência para se locomover. (4)
Entretanto, uma importante característica desse tecido muscular esquelético é a sua notável capacidade de se regenerar. (3)
O que acontece quando ocorre uma lesão muscular?
Imediatamente após a lesão, o tecido muscular inicia o processo de degeneração e inflamação, seguido pela regeneração ou cicatrização. No início, as fibras musculares prejudicadas são removidas do local da lesão por ação dos macrófagos, uma célula importante do sistema imunológico. (1)
Após a limpeza da área necrosada, novas fibras musculares surgem em decorrência da ativação, proliferação e diferenciação de células mononucleares multipotentes que moram no tecido muscular adulto. Quando não regeneradas, as lesões podem levar à perda de massa muscular e à formação de tecido cicatricial (fibroso), resultando em um reparo incompleto. (1,3)
Fibras musculares adultas não são capazes de realizar a divisão celular. Sendo assim, a habilidade de regeneração do músculo esquelético só é possível em razão da presença de células-tronco musculares. Neste caso, a chamamos de células satélites. Essas células têm aptidão para proliferar e fundir-se para formar miotubos (fibras do músculo esquelético), armazenando proteínas musculares específicas. (1,4)
O envolvimento dos ácidos graxos nas funções celulares
Os ácidos graxos são importantes constituintes e determinantes da fluidez da membrana celular. Em processos inflamatórios, as reações orgânicas dos ácidos graxos insaturados leva a formação de substâncias que estimulam o relaxamento da musculatura, inibem a função de neutrófilos, ajudando a reduzir a inflamação. (1)
Porém, será que os ácidos graxos podem ter efeito modulador na formação e na regeneração do tecido muscular? Há poucos trabalhos sobre essa participação, mas pesquisadores já sinalizaram que o ácido oléico e linoléico têm o seu mérito. (1) Acompanhe a leitura para saber mais.
Ômega 6 e 9 atuando na recuperação muscular
O ácido linoleico é um ácido graxo poliinsaturado ômega 6, que pode ser encontrado, por exemplo, no óleo de girassol, sendo essencial para o desenvolvimento saudável dos seres humanos. Depois de ingerido, ele é transformado em ácido araquidônico. O ácido oleico é um ácido graxo monoinsaturado da família ômega 9 encontrado principalmente no azeite de oliva e está associado à redução no risco de doenças cardiovasculares e diabetes. (3,4) Mas, quais os benefícios dos ômegas no dano muscular?
Ômega 9
O ácido oleico ajuda a atenuar o quadro de reparo incompleto, otimizando a capacidade regenerativa e a função contrátil – que permite o movimento – do músculo lesionado. (3)
Acontece da seguinte maneira: o mecanismo de ação do ômega 9 envolve o aumento da expressão de um determinado fator regulador em células-troncos musculares e de proteínas que ajudam a compor fibras musculares esqueléticas praticamente maduras. Tudo isso contribui para a formação de um músculo regenerado em plena função muscular. (3)
Ômega 6
Com o ômega 6, a história é um pouquinho diferente. Neste caso, quem brilha é o ácido araquidônico gerado após a ingestão do ácido linoleico. Um estudo observou o aumento da produção de ácido araquidônico durante a formação do tecido muscular, que aumenta a proliferação das células troncos musculares. (4)
Uma outra pesquisa avaliou o efeito do tratamento com ácido araquidônico em mioblastos (precursores das células satélites) e foi descoberto que o ácido estimula essa célula presente em todos os músculos esqueléticos, favorecendo a formação do tecido muscular. Sem contar que o araquidônico também pode incentivar a renovação da proteína corporal mais rapidamente. (4)
Para concluir, vale ressaltar que ainda há muito o que ser explorado na literatura científica sobre a relação dos ácidos graxos ômega 6 e 9 com a recuperação dos músculos esqueléticos. Desse modo, é sempre importante buscar uma orientação profissional antes de incluir qualquer nutriente na rotina, pois só alguém qualificado pode recomendar o melhor tratamento para cada caso. Lembre-se: as informações que trazemos no blog não substituem uma consulta. Cuide de você com amor e responsabilidade!
Fontes:
- PINHEIRO, Carlos H. da Justa. 2012. 96 f. Efeito da Terapia com Células-Tronco Musculares e Células-Tronco Mesenquimais na Regeneração do Músculo Esquelético: Modulação por Ácido Oléico. Tese (Pós Graduação em Fisiologia Humana) – Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Disponível em: <www.teses.usp.br/teses/disponiveis/42/42137/tde-18092012-091244/publico/CarlosHdaJustaPinheiro_Doutorado.pdf>. Acesso em 27 jan. 2023.
- GUIMARÃES, Judite Lapa; ADELL, Edilene A. de Andrade. Estrutura bioquímica do músculo. DTA – FEA – UNICAMP. 1995. Disponível em: <https://www.fea.unicamp.br/sites/fea/files/dta/laboratorios/PPCD/Estrutura_e_Bioquimica.pdf>. Acesso em 27 jan. 2023.
- BERNARDES, Júlio. Ácido graxo existente no azeite pode melhorar regeneração muscular. Jornal da USP, 2017. Disponível em: <https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/acido-graxo-existente-no-azeite-pode-melhorar-regeneracao-muscular/>. Acesso em 27 jan. 2023.
- TEIXEIRA, PHABLO S. Abreu. Efeito dos ácidos linoleico e oleico na regeneração do músculo gastrocnêmio de ratos após laceração. 2014. 157 f. Tese (Pós Graduação em Fisiologia Humana) – Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. Disponível em: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/42/42137/tde-11032015-142555/publico/PhabloSavioAbreuTeixeira_Doutorado_I.pdf>. Acesso em 27 jan. 2023.